Principais métodos de coleta de material para análise citopatológica

A citopatologia é uma área essencial da medicina diagnóstica, indispensável na detecção precoce e no acompanhamento de diversas doenças. É uma ferramenta dedicada ao estudo de células para identificar alterações que podem indicar doenças como câncer, infecções e inflamações.

Mas como essas células chegam até o laboratório? Neste artigo, explicaremos os principais métodos de coleta de material para análise citopatológica, destacando sua importância e aplicações.

1. Citologia cervical (Papanicolau)

O exame de Papanicolau é, talvez, o método de coleta de material para análise mais conhecido na citopatologia. Sua realização ocorre durante consultas ginecológicas, onde o profissional de saúde utiliza uma espátula ou escova para coletar células do colo do útero.

Em seguida, esse profissional analisa essas células para identificar alterações pré-cancerosas ou cancerosas, além de infecções como o HPV (papilomavírus humano). Este método é fundamental no rastreamento do câncer cervical e na saúde preventiva das mulheres.

O nome “Papanicolaou” é uma homenagem ao patologista grego Georges Papanicolaou, que criou o método no ano de 1928.

Objetivos

  • Detectar lesões precursoras de câncer do colo do útero;
  • Identificar a presença de bactérias sexualmente transmissíveis, como clamídia, sífilis e gonorreia;
  • Verificar a saúde da mulher.

Como é feito

  • Realiza-se o exame com um espéculo vaginal, uma espátula e uma escova endocervical
  • O médico recolhe amostras do tecido uterino
  • Envia-se o material ao laboratório para análise

Quem deve fazer

  • O Ministério da Saúde recomenda que mulheres entre 25 e 64 anos façam o exame anualmente
  • Se o resultado for negativo por dois anos seguidos, o exame pode ser realizado a cada três anos
  • Se o exame indicar a presença de HPV, a frequência deve ser semestral ou menor

2. Citologia urinária

No caso da citologia urinária, a amostra é obtida por meio da coleta de urina. Este exame analisa as células presentes na urina e é usado para identificar eventuais células anormais, que podem indicar câncer do trato urinário, como o de bexiga. Também pode ser útil no diagnóstico de infecções urinárias persistentes ou atípicas.

Geralmente, recomenda-se que a urina seja coletada após uma breve retenção urinária, para garantir que células suficientes sejam obtidas.

Indicações

  • Rastrear e acompanhar pacientes com carcinoma urotelial
  • Diagnosticar cânceres dos rins e do trato urinário
  • Avaliar pacientes que tiveram um tumor na bexiga ou rim removido

Como é realizado

  • Uma amostra de urina é analisada sob um microscópio
  • Verifica a presença de qualquer tipo de células pré-cancerígenas ou cancerígenas

Limitações

  • Os resultados podem indicar, por vezes, a existência de um câncer inexistente ou podem falhar ao não indicar um câncer existente, sobretudo quando este é muito recente ou de crescimento lento.
  • Não é um exame definitivo

3. Aspiração por agulha fina (PAAF)

A aspiração por agulha fina é um método de coleta de material para análise seguro e minimamente invasivo, usado para coletar células de nódulos ou massas sólidas em diversas partes do corpo, como tireoide, mama, linfonodos ou fígado.

Durante o procedimento, uma agulha fina é inserida na área suspeita e células são aspiradas para análise. A PAAF é amplamente utilizada para avaliar a natureza de nódulos e determinar se são benignos ou malignos, sendo uma ferramenta indispensável na investigação de lesões.

Como é feita a PAAF?

  • O médico utiliza um aparelho de ultrassom para localizar o nódulo ou cisto
  • Insere uma agulha fina no local
  • Aspira uma pequena quantidade de células
  • Coloca as células em uma lâmina de vidro
  • Envia a lâmina para um patologista analisar

Quando é indicada?

  • Para diagnosticar câncer ou confirmar se uma lesão na tireoide é benigna
  • Para avaliar linfonodos axilares
  • Para programar quimioterapia neoadjuvante e radioterapia adjuvante

Vantagens

  • Baixo custo
  • Alta disponibilidade
  • Permite o envio de células para diagnóstico com rapidez

Desvantagens

  • Não permite a diferenciação entre tumores in situ ou invasivos
  • Não é possível realizar o exame de imunohistoquímica

4. Lavado broncoalveolar

O lavado broncoalveolar é uma técnica utilizada para coletar amostras de células e fluidos dos pulmões. O procedimento é realizado durante uma broncoscopia, onde um tubo fino e flexível é introduzido nas vias aéreas.

Esse método de coleta de material para análise é essencial para diagnosticar doenças pulmonares, como infecções, inflamações e câncer de pulmão. Também é útil para avaliar condições relacionadas à exposição a substâncias tóxicas ou agentes infecciosos.

Como é feito

  • Injeta-se uma solução estéril na árvore broncoalveolar distal
  • Aspira-se o líquido, que contém amostras do trato respiratório inferior
  • Realizam-se exames laboratoriais, como citologia, bacterioscopia, cultura bacteriana e fúngica, e antibiograma

Aplicações

  • É um método de escolha para investigar microbiológica do COVID-19
  • É considerado o método mais fidedigno para investigação microbiológica do trato respiratório inferior
  • No campo veterinário, é usado para avaliar alterações celulares durante a infecção por Aelurostrongylus abstrusus em gatos
  • Também é usado para avaliar enfermidades inflamatórias não infecciosas pulmonares em equinos

Considerações

  • É importante correlacionar os dados com o exame físico e exames complementares, como o Raio X e a ultrassonografia
  • Áreas locais de edema pulmonar criadas pela lavagem podem desencadear hipoxemia transitória

5. Citologia de líquidos corporais

É um exame laboratorial que analisa as células presentes em fluidos e secreções do corpo. Também é chamado de citologia especial ou exame de líquidos.

Este método analisa células de líquidos corporais — como urina, escarro, derrames pleurais, secreções mamilares, entre outros — coletados de cavidades específicas, como:

  • Líquido pleural (ao redor dos pulmões): retirado da cavidade torácica, ajuda a identificar cânceres, infecções ou condições inflamatórias.
  • Líquido ascítico (fluido peritoneal): obtido do abdômen, é usado para diagnosticar doenças como câncer de ovário ou infecções peritoneais.
  • Líquor (líquido cerebroespinhal): extraído da coluna vertebral, auxilia na investigação de infecções no sistema nervoso central e doenças neoplásicas.

Esses líquidos são coletados por técnicas específicas, como toracocentese, paracentese ou punção lombar, dependendo da região.

Para que serve

  • Confirmar ou afastar o diagnóstico de doenças
  • Detectar a presença de sinais de inflamação, infecção, sangramentos ou de câncer
  • Monitorar e prognosticar processos infecciosos, inflamatórios, hemorrágicos e neoplásicos
  • Diferenciar processos em agudos ou crônicos, locais ou sistêmicos, bacterianos, viróticos ou fúngicos

Como é feito

  • As amostras são colhidas em um frasco (urina, sêmen) ou inserindo uma agulha em uma cavidade do corpo
  • Depois da colheita, podem ser feitos diversos exames, incluindo bioquímicos, microscópicos e exames para doenças infecciosas

6. Esfoliação celular

A esfoliação celular é um método de coleta de material para análise que envolve a raspagem ou escovação de superfícies corporais para coletar células. É usada em diversas áreas, como lesões cutâneas, mucosas bucais e lesões em órgãos internos acessíveis por endoscopia.

Este método é especialmente útil para detectar cânceres superficiais, como o de pele ou boca, bem como para rastrear alterações em áreas de fácil acesso.

Por que a coleta adequada é importante?

A precisão do diagnóstico citopatológico depende diretamente da qualidade da amostra coletada. Uma coleta inadequada pode levar a resultados inconclusivos, atrasando o tratamento do paciente. Por isso, os profissionais responsáveis pela coleta seguem protocolos rigorosos para garantir que a amostra seja representativa e suficiente.

Além disso, o uso de técnicas minimamente invasivas, como a PAAF, torna o processo menos desconfortável para o paciente, aumentando a aceitação e a adesão aos exames.

Portanto, os métodos de coleta para análise descritos acima permitem que os especialistas analisem células de diferentes regiões do corpo, ajudando a salvar vidas. Incentivar a realização de exames preventivos e diagnósticos é essencial para garantir que a citopatologia continue desempenhando seu papel vital na medicina moderna.

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